Os rumores das águas São Lourenço.
Grupo de moradores e Ministério Público querem proteger o Parque das Águas de São Lourenço, em Minas Gerais, da exploração de uma famosa multinacional
“Uma água que cura as pessoas é um presente que a natureza nos oferece de graça.
É muito especial e o que está acontecendo aqui é um sacrilégio.
Certamente, essa é uma luta da sociedade civil, de quem está vendo o problema e não tem amarras.”
Essa afirmação veio então através da Terapeuta Nair Ribas D’Ávila, que é da
Ele mar’Água. participa das mobilizações contra a empresa.
Há alguns anos, a gigante multinacional suíça da área de alimentos industrializados, vem se utilizando dos poços de água mineral de São Lourenço.
Tudo para fabricar e vender a sua água com a marca PureLife (Pura Vida).
Contudo, para fabricar então a água engarrafada, a empresa descarta estudos sérios dos riscos oferecidos à saúde.
Com isso, desmineraliza a água e acrescenta sais minerais de sua patente.
Lembrando que, a desmineralização de água é proibida conforme Constituição.
Portanto, as águas minerais possuem propriedades medicinais com baixo custo.
Era um recurso eficiente e barato, ajudava no tratamento médico de diversas doenças.
Mas o poder dessas águas permanece.
Os Médicos da região, por exemplo, curam a anemia das crianças de baixa renda apenas com água ferruginosa.
EXTERMÍNIO DAS ÁGUAS MINERAIS MEDICINAIS DE SÃO LOURENÇO.
As águas do poço que abasteciam a fonte Oriente, já foram exterminadas há 10 anos.
A magnesiana há 12.
Constatações sobre irregularidades e contravenções cometidas pela multinacional estão de posse do Ministério Público local, que instaurou Ação Civil Pública contra a empresa.
Contudo, sem autorização, para a fabricação da marca Pure Life, lançada no mercado do Paquistão, em 2003, com todo o lote retirado deste poço.
Cientistas europeus afirmam que nesse processo, ocorre a desestabilização a água e acrescenta sais minerais para fechar a reação.
Em outras palavras, a PureLife é uma água química e não natural.
Embora cause mal, a empresa responsável está faturando em cima de um bem comum: A água.
Além de esgotar o recurso por não obedecer às normas de restrição de impacto ambiental, expõe a saúde da população a riscos desconhecidos.
O ritmo de bombeamento está acima do permitido.
Troca de dutos na presença de fiscais é rotina.
O terreno do Parque das Águas de São Lourenço está afundando devido ao comprometimento dos lençóis subterrâneos.
A extração em níveis além do aceito está comprometendo os poços minerais.
Cujas águas têm um lento processo de formação.
Dois poços já secaram.
Toda a região do sul de Minas está sendo afetada, inclusive estâncias minerais de outras localidades.
Durante anos a multinacional vinha operando, sem licença estadual.
E finalmente obteve essa licença no início de 2004.
Morando em frente ao Parque, Alzira Maria Fernandes olha para o local com tristeza:
” Só acha bonito quem não viu como era antes. Eu frequentava muito ali. Era uma maravilha.
Agora aestão está acabando com tudo.
Até o presidente Getúlio Vargas vinha aqui.
E hoje está desse jeito.”
Mas o saudosismo dá logo lugar ao senso prático.
Ela se esquece dos turistas de chapéus e saias rodadas e de suas gavetas sai uma série de documentos que ela empilha sobre a cama.
São pareceres ambientais, estudos, laudos e ofícios sobre a exploração das águas minerais de São Lourenço pela empresa.
A maior parte dos documentos é do processo de 2001 que o Ministério Público Estadual moveu contra a empresa.
Depois de protestos da população sobre alterações no sabor e na vazão das águas do parque.
Na ocasião, foram encontradas irregularidades na exploração dos poços Primavera e Carbogasosa.
Os poços se encontram fechados, mas outras questões levantadas na época continuaram sem resposta.
Que permita determinar com precisão a capacidade de reposição dos aquíferos e a quantidade segura de extração de água para garantir a sustentabilidade do recurso.
Na página da São Lourenço, a empresa divulga um comunicado como mostra a foto abaixo:
IRREGULARIDADES E MANOBRAS POLÍTICAS.
Um dos brasileiros atuantes no movimento de defesa das águas de São Lourenço, Franklin Frederick, conseguiu apoio, na Suíça, para interpelar a empresa criminosa.
Após anos de tentativas frustradas junto ao governo e à imprensa para combater o problema
Em janeiro de 2012, Franklin conseguiu interpelar pessoalmente, e em público, o presidente mundial do Grupo que, irritado, respondeu que mandaria fechar imediatamente a fábrica no local.
No dia seguinte, no entanto, o governo de Minas (então PSDB), baixou portaria regulamentando a atividade da grande empresa.
Em uma dessas matérias, o vereador Cássio Mendes, do PT de São Lourenço, envolvido na batalha contra a criminosa empresa, reclama que sofreu pressões do Governo Federal para calar a boca.
Teria sido avisado de que o pessoal da Nestlé apóia o Programa Fome Zero e não estava gostando do barulho em São Lourenço.
Esse é outro caso sinistro.
CENÁRIO
A empresa, como estratégia de marketing, incentiva os consumidores a comprar seus produtos, alegando que reverte lucros para o Fome Zero.
E qual é a real participação dela no programa?
A contratação de agentes e, parece, também fornecendo o seu treinamento.
O Prefeito de São Lourenço pelo segundo mandato, José Sacido Barcia Neto (PSDB), o Zé Neto, como é conhecido, é contrário a esses mecanismos que, para ele, podem burocratizar a gestão.
“O tombamento vai engessar melhorias no parque.
Precisamos é de uma boa política de relacionamento com a Multinacional e com os órgãos fiscalizadores.”
A pesquisa mais completa sobre a área, sugerida em 1998, nunca foi feita.
“Vamos ao parque e sentimos que a água está diferente.
Precisamos de um estudo que compare a qualidade da água hoje com o que era antes, para saber o que está acontecendo, mas parece que isso não é óbvio”, contesta Nair, do Amar’Água.
O o deputado mineiro Gabriel Guimarães (PT), presidente da Comissão Especial do Novo Código de Mineração, prometeu acompanhar a questão:
“Esse é um pleito justo, legítimo, e me comprometo publicamente a acompanhar o andamento desse estudo que é fundamental para a preservação das águas e a sustentabilidade da região.”
PESQUISAS
Segundo a empresa responsável, ela extrai menos da metade do que está autorizada pelo DNPM.
O órgão utiliza um teste de bombeamento para verificar quanto tempo o poço leva para se recuperar depois de a água ser bombeada por um certo número de horas.
A empresa não divulgou a quantidade extraída, mas segundo os cálculos feitos pela reportagem, a quantidade deve ser de cerca de 1,6 milhão de litros por mês, que correspondem a 44% dos 3,6 milhões de litros autorizados pelo DNPM.
Em um ano, a empresa deve retirar, portanto, uma média de 19 milhões de litros de água.
Na semana que vem, veremos a continuidade dessa matéria nas questões de identidade, exploração, urbanização e poluição que pesam em cima da multinacional Suiça.
Leia também: O verdadeiro preço da água engarrafada para o meio ambiente.
10 de março de 2017